A incapacidade física relacionada à coluna vertebral é a moléstia mais prevalente e de mais elevado custo em todo o mundo.
Sua abordagem é baseada na identificação de causas, mensuração, predição de morbidade, estratégias de tratamento desde os cuidados iniciais mais simples até os de mais alta complexidade, além da busca por mecanismos que permitam impedir que quadros agudos tornarem-se crônicos.
Muitas são as patologias que acometem a coluna vertebral, tais como: fenômenos degenerativos, traumáticos e relacionados ao desenvolvimento são muito comuns, mas também as doenças de origem metabólica (como a osteoporose), inflamatórias (como doenças reumáticas), oncológicas benignas e malignas, primárias (cuja origem é a própria coluna) ou metastáticos (quando o sítio de origem está fora da coluna).
Dentre estas todas, em muitos casos o tratamento pode ser conduzido sem que sejam necessárias intervenções cirúrgicas. São passivos de tratamento não cirúrgico os casos em que a estabilidade espinhal e a integridade neurológica não está comprometida ou sob risco de tal. Nestas circunstâncias medidas como repouso, proteção externa com órteses e medicações para controle de dor, aliados a técnicas de reabilitação adequadamente mensuradas às necessidades e a aptidão de cada paciente podem ser suficientes até que se estabeleça o processo de resolução.
Como o CEMERC conduz estes tratamentos?
No primeiro contato com o paciente, já se deve identificar os passos na seleção do tratamento mais adequado.
Um bom direcionamento para o tratamento exige a congruência entre a história do paciente, o exame físico detalhado e exames complementares quando necessários (sejam de imagem ou outros).
Achados de exames de imagem por si só, como a presença de hérnias ou degeneração discal, não significam terem estas participação na etiologia do problema que acomete o paciente. A grande importância do exame físico realizado pelo médico consiste em diferenciar se a região de queixas da coluna é a área de afecção principal, ou se estruturas adjacentes como os ombros, os quadris, ou mesmo alterações posturais e do deambular podem ser causa principal ou associada de dor referida à coluna.
Como ocorre o processo terapêutico?
A escolha do processo terapêutico não cirúrgico pode passar desde orientações simples como compressas, algum repouso e medicações de uso de curto prazo (relaxantes musculares, anti-inflamatórios, corticoides, analgésicos comuns e opióides), até mesmo por laboriosos tratamentos de reabilitação (fisioterapia com cinesioterapia, RPG, Pilates, manipulações, liberação miofascial, etc), uso de suportes como coletes ou colares.
O resultado do tratamento resulta de um processo de decisão e compartilhamento de responsabilidades entre o paciente e o médico, considerando as opções de tratamento mais adequadas.
Maus hábitos de vida podem ser perpetuadores do processo patológico. Não são incomuns quadros de dor e limitação funcional cervical ou lombar persistente serem decorrentes de mau hábito postural ou mau condicionamento físico.
Que fatores podem dificultar o tratamento das dores na coluna vertebral?
O excesso de peso, assim como a idade avançada não têm efeito direto sobre quadros de dor lombar, mas podem prolongar o processo de tratamento.
Profissionais com sobrecarga ocupacional, assim como má postura são fatores que afetam a ocorrência de dor lombar. Fatores psicossociais podem prolongar ou mesmo dificultar processo de tratamento.
Outras patologias como distúrbios do sono e incontinência, doenças sistêmicas como as reumatológicas e endocrinológicas também podem levar a quadros de dor lombar persistente7.
Como o paciente pode colaborar em seu próprio tratamento?
A participação do paciente nos cuidados durante e após o tratamento é de grande relevância. Pode-se dizer que em alguns casos, o tratamento é como uma porta que se abre apenas por dentro. A consciência de que o paciente não é partícipe e sim ator principal na obtenção dos resultados almejados é fator de primordial relevância ao tratamento.
A assiduidade aos cuidados necessários ao longo do tempo depende de mudanças de hábitos que necessitam ser inseridos e mantidos na rotina de vida diária do paciente. São muitas das vezes cuidados de longo prazo, como a manutenção de vigilância postural, a prática de exercício físicos de forma regular, atendendo às necessidades que são específicas de cada indivíduo (via de regra fortalecimento e alongamento muscular assim como prática de coordenação motora e equilíbrio).
Patologias degenerativas como a hérnia de disco, estenose de canal vertebral, espondilolistese e algumas formas de escoliose podem ter muito boa resposta com o tratamento não cirúrgico. O tratamento muitas das vezes atua com um acelerador do processo natural de cura e auxilia no alívio da limitação funcional.
Porém, em alguns casos como traumas, deformidades, infecções, tumores, instabilidades, presença ou não de compressão nervosa, há que se reconhecer que o tratamento cirúrgico torna-se o mais adequado, principalmente no insucesso do tratamento conservador.
Referências:
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